terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Entrevista à Vida Económica


Como surgiu a ideia de escrever “Speculations & Trends” ?

Evolutivo. Dos artigos da Vida Económica para uma proposta de compilação, das ligações a Harvard e ao MIT para artigos de tendências na área de gestão, das tendências de gestão para as tendências globais. Se não fosse um livro para 2010-2012, não pararia de evoluir, sofrendo mutações constantes.

Como explica toda a expectativa em torno do livro, que ainda nem foi publicado?

Um cocktail de novidade com inovação. Novidade, porque é um livro de tendências, global, e escrito em português. Inovação porque foi escrito num formato mashup – entre mim e centenas de prosumers de vários pontos do mundo, porque não tem direitos de autor e porque procura fundir-se, sem complexos, com formatos alternativos de difusão de conhecimento. Talvez sejam estes ingredientes – e não o conteúdo – que estejam a despertar a atenção dos media, das universidades e de muitas livrarias.

Admite que o sucesso do livro não se deve ao seu conteúdo, mas a factores de marketing?

Desde logo, referir que o livro não está a ser um sucesso, como a pergunta sugere. Está a gerar expectativa, mas o sucesso poderá vir a ser medido na realidade apenas mais tarde, depois do seu lançamento. Por outro lado, esta expectativa não está obviamente relacionada com o conteúdo, já que ninguém o leu. Também não são factores de marketing, mas um posicionamento que procura a diferença e se afirma por ser disruptivo.

Por outro lado, as livrarias estão cheias de livros que vendem pela capa. Um bom livro com má capa vende menos que um mau livro com boa capa. Por isso, a correlação instantânea entre vendas e qualidade do conteúdo é um mito urbano.


Como se medirá o sucesso do livro? Através das suas vendas?

É uma medida, embora questionável. Prefiro pensar em termos de largura de espectro na distribuição ou – melhor ainda – nas referências e na utilização de parte do livro noutros contextos, académicos, empresariais, pessoais, de criação ou contestação, de evolução ou negação, e sobretudo de reinvenção.


Não se importa que o livro seja copiado e plagiado? É de facto irrelevante que sejam usadas criações suas para proveito de outrém?


A palavra plágio só existe porque foram criadas barreiras na distribuição de propriedade intelectual, como o fim único de remunerar os seus criadores. Como se sabe de outras áreas da competitividade, as barreiras raramente criam o melhor dos resultados, funcionando como factores desviantes do interesse real da evolução. A tendência de do futuro próximo passa por acelerar a evolução da sociedade do conhecimento, e é fundamental que os direitos sejam dissemináveis de forma gratuita, célere e transparente. Os criadores de conteúdo encontrarão outras formas de remuneração, se este tiver realmente valor – as restantes criações serão rapidamente ignoradas. Neste contexto, não posso dizer que não me importo nem que me seja irrelevante que partes ou todo o conteúdo sejam usados para criação de novos conteúdos. Não me é irrelevante porque isso seria significativo da respectiva utilidade. Em suma, não é irrelevante, porque é um objectivo. Estão todos convidados a usar, copiar, transpor, acrescentar, remixar e criar novo valor em cima deste. É este o conceito de mashup: os conteúdos são permanentes sub produtos mutáveis e evoluíveis em milhares de direcções alternativas, e não apenas na respectiva área de criação. Na música, começam a aparecer os primeiros projectos de reinvenção de componentes de conteúdo que misturam, depois de várias iterações e outros tantos mashupers, conteúdos da área musical, teatro, escrita e artes gráficas, com propostas de valor interessante, mas em permanente mutação e evolução. Este é o novo mundo da evolução vertiginosa do conhecimento. Speculations & Trends não virá a ser – neste contexto da propriedade intelectual - um livro diferente dos outros. Será apenas o primeiro.



Já foi citado a recomendar as pessoas para não comprarem o seu livro. Trata-se de uma ferramenta de marketing?


Não, de todo. Na realidade, é precisamente o inverso. É uma proposta honesta, embora não necessariamente vantajosa para mim, enquanto autor. De facto, comprar o meu livro não é a melhor opção para aprender e apreender sobre questões relacionadas com tendências. Cria mais valor para cada leitor repetir o meu processo de construção deste livro , questionando-se e estudando, com a maior horizontalidade possível, discutindo e filtrando, arriscando e evoluindo, apreendendo de forma única quais serão as tendências, nos mais variados sectores para os próximos anos. Essa é que é a melhor proposta de valor. Quem não quer investir tempo a fazer esta procura, tem uma opção menos má ao adquirir o Speculations & Trends e ficar com uma boa ideia das tendências. Mas não é, de facto, a melhor das opções.


Por falar em tempo - Como é possível compatibilizar um trabalho de grande responsabilidade no El Corte Inglés, com a docência no IPAM, as crónicas e os artigos e ainda um livro? Qual é o segredo?


Estar acordado, estar vivo e querer evoluir. Escrever um livro é um processo de aprendizagem, e todos os complementos profissionais às minhas funções principais têm como fim a aprendizagem e evolução permanente. É evidente que isto só é possível num grupo que junta o melhor de dois mundos. O El Corte Inglés é um grupo com gestão contemporânea e procura constante de evolução, mantendo em paralelo valores tradicionais , dos quais se destaca a formação e a progressão das pessoas enquanto profissionais e enquanto pessoas. São estas características que me permitem desenvolver competências em vários outros projectos, em paralelo com um trabalho de grande responsabilidade e rigor. Por outro lado, integrar conhecimentos com outras pessoas que procuram evolução constante faz-me crescer permanentemente. E ser um short sleeper também ajuda …


Speculations & Trends será editado noutros países e línguas?

Afirmativo. Não estão definidos os canais e parceiros na maior parte deles, mas Espanha, Argentina e México são destinos confirmados.


E sobre tendências, que dizer?

Que somos nós que as construímos. Nós, os que as queremos influenciar. Nós, os que as queremos criar. Nós, os que queremos.

2 comentários:

  1. Umas respostas interessantes mas não achas que a ideia de "partilha" dos nosso escritos pelos outros é muito avançado para a nossa mentalidade/educação?

    ResponderEliminar
  2. Pode ser avançado, mas somos nós que fazemos a evolução... Só é avançado enquanto não for mainstream...

    ResponderEliminar